UTILIZAÇÃO
DA REAÇÃO DE BAYLIS-HILLMAN EM QUÍMICA ORGÂNICA |
1. CONSIDERAÇÕES
GERAIS A reação de Baylis-Hillman pode ser
definida como uma condensação entre um aldeído ou uma imina e uma substância a,b-insaturada, portando um grupo retirador de elétrons, na
presença de uma amina terciária ou de uma fosfina. Esquema 1: Representação Geral da Reação de
Baylis-Hillman Químicamente, essa reação equivale à
adição de anion vinílico a um aldeído. Sob condições ideais essa reação
conduz a produtos polifuncionalizados que podem ser utilizados como substrato
para a síntese de produtos naturais e fármacos. Além disso, essa reação
apresenta uma elevada economia de átomos, já que todos os átomos que compõem
os reagentes estão incorporados no produto de condensação. Devido a essa
característica, essa transformação pode ser considerada uma reação limpa
(“green chemistry” ou química sustentada). A reação de Baylis-Hillman foi descrita pela primeira vez
por K. Morita e cols (Bull. Chem. Soc. Japan 1968, 41, 2815). Esses
autores utilizaram uma fosfina terciária como base de Lewis para catalisar a
reação. Mais tarde, Anthony B. Baylis e Melville E.D. Hillman, trabalhando
para a empresa Celanese, descreveram uma variação da reação descrita por
Morita, em uma patente alemã (Patente alemã 2155113 de 5 de novembro de 1971;
equivalente a patente americana US3743669 de 3 de julho de 1973), utilizando,
agora, uma amina terciária como base de Lewis. Infelizmente, o nome do real descobridor da reação ficou em
segundo plano, entretanto é comum encontrar na literatura citações dessa
reação com reação de Morita-Baylis-Hillman. Essa reação conduz à formação de substâncias
do tipo b-hidroxi ou (amino)-a-metileno carboniladas, que apresentam
uma enorme versatilidade de aplicações sintéticas. Figura 1: Versatilidade sintética dos adutos de
Baylis-Hillman. 2.
ALGUMAS CONTRIBUIÇÕES RECENTES DO NOSSO GRUPO DE PESQUISA RELACIONADAS À
EXPLORAÇÃO SINTÉTICA DA REAÇÃO DE BAYLIS-HILLMAN. Nos últimos anos, o nosso grupo de trabalho vem dando
contribuições no sentido de aperfeiçoar o entendimento mecanístico dessa
reação, aumentar a velocidade da reação e explorar o uso dos adutos, como
substrato para a síntese de produtos naturais e fármacos. Recentemente, em trabalho conjunto realizado entre o nosso
grupo de pesquisa e aquele liderado pelo Prof. Marcos N. Eberlin do
Laboratório Thomson de Espectrometria de Massas, demonstramos todo o ciclo
catalítico da reação de Baylis-Hillman. Apesar da grande atenção que essa
reação vem despertando na comunidade mundial, até o momento não existia dados
mais consistentes que pudessem suportar a proposta mecanística dessa reação.
Utilizando a técnica de Ionização por Eletronspray associado com Espectrometria
de Massas Sequencial (Tandem Mass Spectrometry) foi possível
determinar sem ambiguidades, pela primeira vez, todo o ciclo catalítico da
reação de Balyis-Hillman (Santos, L. S.; Pavam, C. H.; Almeida, W. P.;
Coelho, F. Eberlin. M. N. Angew. Chem. Int. Ed. 2004, 43,
4330-4333). Esquema 2:
Ciclo catalítico da reação de Baylis-Hillman determinado por
ESI/Espectrometria de Massas Sequencial (Tandem Mass Spectrometry). A
SÍNTESE DE PRODUTOS NATURAIS ATRAVÉS DE ADUTOS DE BAYLIS-HILLMAN. A demonstração da versatilidade sintética desses adutos,
como substrato para a síntese de produtos naturais, também é nosso objetivo.
Dentro desse contexto, relatamos recentemente a síntese de vários produtos
naturais e fármacos oriundos de adutos de Baylis-Hillman. No quadro abaixo
apresentamos os alvos que já foram sintetizados (em
vermelho). Entre as substâncias já sintetizadas podemos encontrar
antibióticos de largo especytro, ferômonios de agregação de insetos e
lignanas com atividade biológica. Figura 2:
Alvos sintetizados em nosso laboratório, utilizando adutos de Baylis-Hillman
como substrato. Outras classes de moléculas de produtos naturais já foram
identificadas como alvo sintético. Os estudos sintéticos que já estão em
andamento em nosso laboratório são mostrados abaixo (em azul) . Esses alvos sintéticos fazem
parte de trabalhos de mestrado e doutorado que estão sendo desenvolvidos em
nosso laboratório de pesquisa. O desenvolvimento de novas estratégias
sintéticas, tomando por base os adutos de Baylis-Hillman, também constitui
objeto de estudo em nosso laboratório. Recentemente descrevemos a preparação
de tetraidroisoquinolinonas (Coelho, F. Lopes, E., Veronese, D., Rossi, R. C., Tetrahedron Letters 2003, 44, 5731-5735). A síntese de esqueletos benzoazepinas a partir de
adutos de Baylis-Hillman também está em desenvolvimento em nosso laboratório. Figura 3:
Produtos naturais cujos estudos sintéticos estão em andamento em nosso
laboratório. |
OUTRAS
ESTRATÉGIAS PARA A SÍNTESE PRODUTOS NATURAIS BIOLOGICAMENTE ATIVOS |
Além da exploração sistemática da reação de Baylis-Hillman e
dos seus adutos como substrato para a síntese de produtos naturais, o nosso
laboratório vem, desde da sua constituição em 1995, desenvolvendo estratégias
para a síntese de outras substâncias dotadas de atividades biológicas, inclusive
fármacos, explorando outras estratégias. Nesse aspecto já relatamos as
sínteses racêmica e assimétrica do Baclofen (Synth. Commun. 1997,
27, 2455-2465; Tetrahedron:Asymmetry 1999, 10,
2113-2118, respectivamente), fármaco inibidor seletivo de receptores GABAB,
utilizado no tratamento de esclerose múltipla. De um importante intermediário
para a síntese do enantiosseletiva do adoçante natural Monatina (Synth
Commun. 2000, 29, 2143-2159) e a síntese total
enantiosseletiva da N-Boc-Monatina (Tetrahedron Lett. 2001, 42,
6793-6796). Figura 4:
Outras sínteses totais enantiosseletivas desenvolvidos em nosso laboratório A química de produtos naturais de orige marinha também vem
despertando a atenção do nosso laboratório. Recentemente, descrevemos uma
metodologia sintética que permitiu a construção estereosseletiva do esqueleto
da Napalilactona e da Patilactona (J. Braz. Chem. Soc. 2001, 12,
360-367). Esses dois nor-sesquiterpenos, isolados de corais marinhos,
apresentam um padrão estrutural de elevada sofisticação para uma molécula de
apenas quatorze átomos de carbono. A estratégia, alvo da publicação no JBCS,
foi utilizada para a construção da Patilactona-A e também para gerar dados
que permitiram confirmar a configuração relativa reportada pelos pesquisadores
chineses que a isolaram (Tetrahedron 2002, 58, 1647-1656). Figura 5:
Nor-sesquiterpenos de origem marinha sintetizados em nosso laboratório. Esses resultados oriundos de pesquisa original,
integralmente desenvolvida integralmente em nosso laboratório, no
Departamento de Química Orgânica do Instituto de Química da Unicamp, fizeram
ou fazem parte de trabalhos de
orientações de alunos de graduação e pós-graduação e constituem a
nossa contribuição para a formação de de material humano qualificado na área
de síntese orgânica, que podem utilizar esses conhecimentos em vários setores
industriais. Financiamento desses trabalhos de
Pesquisa: Fapesp, CNPq, FAEP/Unicamp |